Minha mão agoraé quase tão exigentequanto meus olhosleitores e vorazes Minha pena hojeNão profere maisquaisquer palavras E o papeldiante de mimnão provocaansiedade No silêncioe na virtude intocadada superfície brancadistante do trânsitode letras e pontos Descobri:É o lugar onde encontrominha alma poéticadormindo e sonhando Porque a vida é repleta deAntíteses que se completamO movimento é importantetambémContinuar lendo “Minha mão agora”
Arquivos mensais:setembro 2022
Hospedeiro de palavras
Ela tinha a ligeira impressão de que sempre era escutada por ele, mas nunca ouvida. Ficava sempre presa na contingência do pensamento dele e não vivia o real das palavras que sua boca reproduziam. Sensação de desespero, sensação de eco ineficaz. Definitivamente ele era o opressor da sua linguagem, ele era um hospedeiro das suasContinuar lendo “Hospedeiro de palavras”
RECOMEÇO
Três da manhãpesou-lhe a mão que lhe fezfilhos.da cama ao chãosubsolo da humilhaçãocaída. alma e camisolaem desalinhoo quarto, arco de entradaporta de saídadizia o dedo em riste.ela, rainha em seus desejosela, rama de lenha molhadafoi o que lhe dera a existência.A mulher há incontáveis sóisnão pescava caranguejos na lamanão comia peixe salgado para o mêsarrancadoContinuar lendo “RECOMEÇO”
Grito eloquente
Quer tudo para o mesmo instante Não sabe esperar nem poucos minutos Balança as mãos e respira ofegante Essa é a vida do impaciente. É o trabalho, a casa, o financeiro. Um turbilhão de coisas na memória; Não sabe se dá um passo a frente Ou se acalma e espera. Vidas do século XXI TerapiasContinuar lendo “Grito eloquente”
“O que você deixou de ser quando cresceu?”
O domingo corria apressado enquanto eu tentava inutilmente impor a ele um ritmo de leveza que eu própria nem tenho. O fim de tarde era morno, com as estruturas pesadas de concreto dos viadutos da cidade expurgando todo o calor que receberam ao longo do dia. Em um deles, uma frase de letras inconstantes cravou-meContinuar lendo ““O que você deixou de ser quando cresceu?””
Travessias
Eu dirigiria por toda uma noite, cruzaria cidades e estados, para ir sempre em frente. A máquina, o zumbido do motor, a estrada escura cortada pelas luzes cegantes de outros faróis. Eu, a estrada, o carro, a noite negra. Um brilho incandescente pálido, a recordação de que há vida nas caixas de concreto estanque, queContinuar lendo “Travessias”
MUNDO
O mundo é uma mistura de tudo que existeMeu sonho é viajar para todos os lugares que existem,Dos mais famososAos mais remotos Quero ver a vidaEm todas as distinçõesE com todos os significados que já existemRessignificar cada crençaÉ entender o propósitoDe tantas diferenças e belezas Vou pôr a minha vida em uma malaE só comContinuar lendo “MUNDO”
Troca de roupa
Troca de roupa Todo mundo dizia Que chegava a época Onde as coisas não cabiam Não é que não servissem Longe dessa inverdade Mas era algo desconfortável Sei lá Um incômodo Eu bem que tentei limpar a lente E por um tempo até achei que estivesse tudo no lugar Mas eis que o botão daContinuar lendo “Troca de roupa”
Presença
Se puder escolher um caminho em tua vida, escolha se emocionar. Escolha a experiência que te levará para além; afora de tuas margens concretadas. Sempre. Para longe dos sentimentos diários e atitudes orquestradas. Opte por aquela viagem que sonhou, muito antes de poder viajar. Retire da estante o livro que te desafia. Pés no chão;Continuar lendo “Presença”
Salto para o desconhecido
A sombra projetada de seu próprio reflexo contra a água lhe dava medo. Via-se pálida, com escuras olheiras, a pele seca. Era jovem, mas sentia-se velha, cansada. Antes do momento final, sentou-se e refletiu. Sentia dentro de si uma forte pulsão de morte. Estudou tudo isso no curso de psicologia. Mas nem a graduação, nemContinuar lendo “Salto para o desconhecido”