Eu tinha um punhado de cartas guardadas que… sequer escrevi. Tive também algumas cartas que o vento entregou e eu nem vi. Eu tinha um punhado de cartas na ponta do toco gasto do lápis, escritas com pressa ou com raiva que com a borracha desfiz. Guardo ainda tantos, envelopes aos milhares para cartas queContinuar lendo “Minhas cartas”
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A calcinha revolucionária
Toda revolução tem início numa ação. Vitória, menina de dez anos frequentava uma colônia de férias durante o recesso escolar, e carregava por toda parte uma mochila. Nela havia tudo o necessário para passar o dia em um clube. Entre outras coisas, uma calcinha. Era uma peça aparentemente vulgar, digo, comum. Grande, de bolinhas, masContinuar lendo “A calcinha revolucionária”
Eu luto
Eu lutoe o meu lutoperpassaas minhas artériasos meus capilaresescuros de tinta azulada As raízes do meu peitodos meus cabeloshoje estão quase pretastintas de mar revolto. Pois a minha caneta chorae a tinta vem de dentro.Esse é o meu sangue.É disso que ele é feito:tinta. Nada consegueremediarIsso é apenas dortudo é apenas perda O que restaéContinuar lendo “Eu luto”
Minha mão agora
Minha mão agoraé quase tão exigentequanto meus olhosleitores e vorazes Minha pena hojeNão profere maisquaisquer palavras E o papeldiante de mimnão provocaansiedade No silêncioe na virtude intocadada superfície brancadistante do trânsitode letras e pontos Descobri:É o lugar onde encontrominha alma poéticadormindo e sonhando Porque a vida é repleta deAntíteses que se completamO movimento é importantetambémContinuar lendo “Minha mão agora”
Amei
AmeiAmei e me lembroAté ontem amava o contorno de todo rosto tatuado na minha memória a ferro e fogo O instanteem que cada chamase instalourepercute na lembrançacomo fragmentosde realidades distantesque simplesmentese queimaramsobre a brasa dos diasaté que restasse apenas cinzas Dias cinzasembrulhados em nuvens cinzassitiando a cidade igualmente cinza O cinzeiro torpe da verdade: os amores foram tragadose aos poucos se desmancharamna bocaContinuar lendo “Amei”