Ela tinha a ligeira impressão de que sempre era escutada por ele, mas nunca ouvida.
Ficava sempre presa na contingência do pensamento dele e não vivia o real das palavras que sua boca reproduziam.
Sensação de desespero, sensação de eco ineficaz.
Definitivamente ele era o opressor da sua linguagem, ele era um hospedeiro das suas ideias.
Naquele dia especifico ela percebeu que ele sempre respondia as perguntas, mas suas respostas eram diferentes das que realmente tinham sido perguntadas.
Ela pensava “Ele mais uma vez não me ouviu”.
Como gostaria de ficar ao seu lado e lhe ensinar a arte de realmente ouvir. Como gostaria de se colocar em contato com ele, talvez isso enriquecesse a vida dos dois.
O contato com o outro, o ouvir… tudo isso era riqueza de vida. E aquela relação era pobre, falida. Não havia conexão.
Quando você deixa de ser afetado pela palavra ela deixa de tocar sua vida, se você não é afetado você não ouve realmente.
O que restava a ela agora no meio de um discurso sem sentido? Gritar, falar, silenciar. As duas primeiras opções eram tentativas inúteis. Pensou que talvez o seu silêncio simbolizasse o que a linguagem verbal não foi capaz de fazer por todos esse anos.
E assim ela partiu… muda, silenciosamente brilhante como o nascer do sol. E pela primeira vez ele que nunca tinha ouvido nada, compreendeu o real significado de tudo o que não aconteceu.
Oi, Karla, parabéns por teu texto. Nem sempre é bom entregarmo -nos ao silêncio resultado da opressão. Seu personagem tem consciência dos ouvidos selados ao próximo. Gostei mesmo . Um beijo
CurtirCurtir