É sábado pela manhã e vago sozinha pelo apartamento. Não preciso de roupas, mas não durmo sem elas.
Os cabelos emaranhados e uma xícara quente me acompanham até a sacada e aquecem as mãos.
Alguém ouve Etta James e o som da vitrola me toma. Ela, sonora, deseja um amor de domingo.
Na sexta olhei na cara do desejo e ri dele com escárnio. Do hálito mentolado ao toque áspero da mão. Quer tudo? Vai querendo, eu não dou.
Demoro a me perceber e é noite.
Etta ressoa em mim:
Quem quer um amor de domingo?
Ele me precisa, quer emaranhar meus cabelos de novo, sentir meu suor. O tamanho do seu corpo, precisamente o tamanho do meu.
Segura minha mão com firmeza e conduz a dança, um tango intenso em branco e preto.
Mal amanhece e ele se arvora num café longo, intenso como a sua pele. Quer almoço e sobremesa, quer ficar.
Segura a minha mão com suavidade e me transporta para o infinito das sardas no seu rosto, ou será no meu?
Os lençóis nos inspiram e expiram.
É domingo pela manhã e vago pelo apartamento ocupado. Preciso de roupas e não as uso mais.
Etta vibra dentro de mim:
Eu quero um amor de domingo.