A mão apertada contra o meu pescoço esmagava-me.
Meu fôlego ia diminuindo e uma sensação de pânico
tomava conta da minha mente.
Aquele relacionamento abusivo já durava anos. Por
inúmeras vezes apanhei, mas nunca tive coragem de
denunciá-lo.
Agressões verbais, pressões psicológicas, socos, tapas…
Passei pelo inferno nas mãos daquele homem.
Mas ainda assim eu persistia, persistia.
Sempre alegando ser a família, os filhos, a
estabilidade… Ou que ele só estava passando por uma
fase difícil e ia mudar.
Até aquele momento.
O soco na mesa na frente da criança demonstrou que
dessa vez o transtorno poderia ser pior.
– Essa comida está um nojo – ele berrou em seguida.
Já preparada para catar os restos no chão, senti sua
mão apertar meu pulso. Tentei gritar, mas com a outra
ele segurou a minha boca. E jogou-me contra a parede,
lançando na sequência suas patas no meu pescoço.
Tentei me debater.
Em vão.
Vi de canto de olho o pequeno perdido, chorando, com
seu carrinho de brinquedo na mão.
Precisava sobreviver. Nem que fosse por ele.
Uma criança inocente não poderia continuar viva nas
mãos desse monstro. Ele já era uma ameaça para mim,
quanto mais para ele, um ser indefeso. O menino não
tinha culpa.
Então, quando já estava quase perdendo a consciência,
vi uma tesoura em cima do móvel. Era só esticar rápido
o braço e atacá-lo, apenas o suficiente para paralisar
aquele inferno e conseguirmos fugir.
Mas precisava ser um movimento rápido e certeiro,
sem segunda chance.
Meu filho grita, parece entender meu pensamento. E
em um milésimo de segundo, o monstro se distrai. Não
penso duas vezes: pego a tesoura e enfio forte.
O sangue escorre pelo carpete.
(((Silêncio. Nunca mais precisamos entrar naquela casa,
marcada pela dor, e pelo medo)))
***
Texto publicado pela escritora e jornalista Carolina Pessôa na 12ª edição da Revista La Loba, sobre violência contra a mulher. Acesse em: https://drive.google.com/file/d/1BptwzvWL0_Mw8wieV9G-npK7YJgqpNl2/view
SE VOCÊ FOI VÍTIMA DE VIOLÊNCIA, DENUNCIE!
Que força, Carol!
Ainda estou tomada pela urgência desse resgate.
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Triste e real. Tantas de nós não conseguiram contar a história depois, como a sua protagonista. Muito bom, Carol.
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É preciso denunciar SEMPRE. Seja a vítima, seja o vizinho, seja um estranho que passou pelo casal e presenciou a violência: os valores humanitários, entre eles a solidariedade, são imperativos.
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