Mais uma lágrima desejosa de liberdade fugiu. Saiu apressada, deslizando. Mas, como não sabia voar, caiu e acertou em cheio o fio teimoso de esperança que ainda estava lá.
Eu nunca imaginei que aquela coisinha miúda e fluida pudesse fazer tal estrago.
Era madrugada, a cidade estava quieta. Acho que por isso consegui ouvir o som da queda.
Fiquei parada observando aquilo tudo. E, por um instante, tive pena dela. Imaginei quais seriam seus sonhos. Se ela tivesse asas, talvez tivesse sido diferente.
Amanheceu. Senti cheiro de café e ouvi risinhos saltitantes se aproximando. Fui tomada por um frenesi. Ah não! Avistei outra lágrima. Pobrezinha, pensei. Mal sabe seu destino.
Cheguei mais perto para observá-la melhor. Essa era diferente. Tinha uma roupa alegre, seu olhar era entusiasmado e feliz.
Curiosamente ela não tentou fugir. Olhou pra mim e pude ler seus lábios silenciosos falando: “eu sou mensageira da gratidão, ainda há esperança”.
Logo depois, quatro bracinhos miúdos me abraçaram dizendo: “bom dia, mamãe!”.