AINDA SEREI EU

Desde criança convivi com muitas mudanças por causa do trabalho do meu pai.  Viajamos por muitas cidades do Norte, Nordeste e Sudoeste do Brasil.
Conhecemos muitas culturas, diferentes modos de falar, de se comportar e de costumes.
Não posso deixar de falar na culinária de cada lugar.  Ao chegarmos eram nos apresentados diferentes pratos de comidas típicas completamente desconhecidos para nós.  Podíamos gostar ou não e nos deliciar com os preferidos.
Cada vez que nos mudavámos para outro lugar, mamãe  “cozinheira de mão cheia”  como se dizia na época, levava vários cadernos com receitas das gostosuras da cidade.
Os tempos mudaram para melhor.  Agora contamos com a tecnologia em todos os setores da nossa vida.
Tudo o que acontece,  em poucos segundos é relatado para o mundo inteiro. Não temos mais segredos nem privacidade. As pessoas rapidamente tornaram o celular um companheiro indispensável 24h por dia.
Confidente da dor ou da alegria, linguarudo por natureza,  espalha aos quatro cantos do mundo,  tudo que lhe é segredado na escrita do teclado ou em fotos,  em sua possante lente que substitui a máquina fotográfica.
Foi por isto que eu pobre ser humano, diante de tal poder, me senti só e abandonada. Já não preciso encontrar meus amigos para jogar conversa fora. Basta abrir a bolsa e sacar o celular.
E há pouco tempo ao chegar na minha terra, percebi que pra lá foi transportada a cidade em que eu morava. Achei estranho e me senti surtar.  Ali estavam as mesmas lojas, pessoas vestidas da mesma forma,  comidas, costumes,  agora iguais e o sotaque quase desaparecido e as gírias as mesmas.
Fiquei deprimida. Não me senti no meu torrão natal.  Será que fui trocada? Só me resta  aceitar que a vida hoje é online e  rápida.


Crédito da Imagem: Foto por Ron Lach em Pexels.com

Os textos representam a visão das respectivas autoras e não expressam a opinião do Sabático Literário.”

Publicado por Joyce Allende

Escrevo porque gosto de contar histórias.

Um comentário em “AINDA SEREI EU

  1. Angélica, como seu texto é gostoso de ler traz a nostalgia do pretérito e a avaliação do presente trazendo sua análise, suas emoções tão particulares mas tão coletivo. Seu olhar é romântico, sincero, íntimo e atemporal!!!

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