Por: Angelica
Na minha adolescência tínhamos uma verdadeira veneração pelo carteiro. Como já está dito no próprio nome da ocupação que tem, o carteiro era o funcionário dos Correios que tinha por obrigação entregar a correspondência nos endereços escritos nos envelopes.
Naquele tempo, só homens podiam ser carteiros. Andavam a pé por muitas ruas do bairro e a gente ficava a espera deles, todos os dias, com um enorme desejo de receber alguma mensagem. Com o passar do tempo surgiram as carteiras, moças que andavam a pé ou de bicicleta, funcionárias do correio ocupando o mesmo lugar dos homens.
Muitas vezes ouvi a vizinha chamando a minha mãe e dizendo: – Olha, o carteiro já está subindo a rua!
O uniforme deste entregador de cartas e cartões era amarelo parecido com uma roupa de soldado.
Ficávamos ali, algum tempo no portão ou andando na calçada, para quem sabe receber alguma coisa.
Podia ser uma mensagem de alegria ou de tristeza. Uma carta de amor ou de reclamação. Ficávamos a esperar porque podia ser que desta vez chegasse.
Era também mais um momento do dia que as vizinhas se cumprimentavam e trocavam algumas palavras, interrompendo o trabalho doméstico que estivessem fazendo. Às vezes, quando a patroa não tinha condições de ficar na frente da casa, mandava algum filho ou a empregada, ficar a espera do carteiro, com medo de não receber aquela carta querida.
O tempo passou, cresci, casei, formamos nossa família. Antes eu morava em uma casa e o carteiro tinha acesso aos portões das residências. Quando me casei fui morar em apartamento. A correspondência não era entregue ao morador, o carteiro entregava ao porteiro que distribuía nas Caixas de Correio do prédio.
Assim, foi tirada de minha vida a magia da espera do Carteiro. Já não sabia mais a cor do uniforme dele. Não via o seu rosto nem desejava uma Boa Tarde, moço!
E não parou por aí, meus filhos cresceram e tornaram-se adolescente e surgiu o computador e a internet. O deslumbre agora era outro, a rapidez com que a mensagem chegava ao seu destino era incrível. As pessoas esqueceram-se de que existia CORREIOS. As agências que eram cheias começaram a ficar mais vazias.
Claro que o Correio é usado para se mandar documentos, encomendas, cartões de felicitação ou de pêsames, mas a internet tornou tudo mais rápido. Posso mandar uma mensagem que chega imediatamente ao seu destino, ou simplesmente faço uma chamada de celular ou vídeo e dou pessoalmente o recado.
Tudo tornou-se imediato. Tudo muito rápido. Com o aparecimento das redes sociais o contato com os amigos ficou só de um lado. O administrador da rede faz uma postagem e se espalha por todos que são amigos. E cada um tomará conhecimento do fato ou da mensagem a hora que acessar a sua própria rede.
Foi recebendo e-mails que me dei conta de que os sentimentos são parecidos com o que se sentia à espera de uma carta. De repente me pego olhando o celular ou o computador a espera de alguma resposta ou confirmação.
Hoje fazemos compras online que nos são entregues por portadores motorizados. Muitas lojas realizam a façanha de entregar encomendas até em três horas.
A modernidade chegou e trouxe uma grande mudança a toda nossa vida. A informática facilita e nos proporciona segurança. Mas fica registrada na história da humanidade a atuação do nosso carteiro e o nosso: muito obrigada, moço!
Crédito da Imagem: Foto por Ylanite Koppens em Pexels.com
“Os textos representam a visão das respectivas autoras e não expressam a opinião do Sabático Literário.”
Angelica, seu texto me lembrou que sentíamos uma ansiedade diferente… esperar uma carta que foi pensada, escrita à mão ou datilografada com cuidado, envelopada e colocada nos correios, nos exigia um tempo de espera. Ganhamos o tempo e com ele a ansiedade das múltiplas mensagens que não param de chegar, exigindo respostas que não temos mais tempo para pensar…
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Angélica, que linda homenagem! Muito bem merecida. Lembro de criança / adolescente trocar cartão de Natal com os primos, aguardando ansiosamente os cartões chegarem pelos correios (mesmo em apartamento). Que ansiedade deliciosa de ter vivido. Aprendendo a esperar o tempo que fosse. Simplesmente amei.
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Oi, querida Angélica, obrigada pelo texto, alcancei a época de se ‘esperar” o carteiro, era gostoso sim. Parabéns pela bela homenagem a esse grande profissional. Bj
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Muito bom saber que somos lembrados, muito obrigado pelo carinho.
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Muito bom saber que somos lembrados, muito obrigado pelo carinho.
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Sou carteiro desde 1996, lembro dessas emoções que causavamos nas pessoas, hoje trabalho interno recebo algumas reclamações na maioria de pessoas idosas por não dominarem a tecnologia aínda somos muito úteis para a sociedade.
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