Por: Karina Freitas
Tentaram abortar-te: um sopro de vida que lutava, em um corpo nutrido pela rejeição, pelo desamor e pela revolta; lutou e, contra todas as expectativas, vieste ao mundo, como uma flor entre os espinhos prosperou. Tentaram desamar-te: não lhe deram abraços, não ganhou beijos, não havia alegria, menos ainda carinho ou consolo, nem palavras afirmativas, o ambiente hostil da placenta fora reproduzido fora dela, contra todas as expectativas, aprendeu amar em sua solidão. Tentaram moldar-te; disseram o que vestir, como se comportar, para onde ir, o que fazer, o que ler ou não ler, silenciar sua verdade, ameaçar sua paz. Tentaram calar-te: definir exatamente o que falar, o que não falar, de que modo se expressar, quais palavras dialogar, qual o tom de voz usar, até sua entonação, e não demonstrar sua intenção, abafar sua espontaneidade. Tentaram intimidar-te; abafar seus sonhos; diminuir seus desejos; destruir seus planos; desestimularam suas capacidades; desconstruir suas habilidades; subestimar sua inteligência; reduzir sua liberdade. Tentaram desonrá-la; atentaram contra seu corpo, partiram seu coração, furtaram sua alma; suas vestes estavam rasgadas, seu corpo sujo e ferido, tomado de marcas que lhe lembrariam para sempre; que tinha sobrevivido, à luta que travara. Sobreviveu ao Holocausto, as guerras, ao paternalismo, ao machismo, ao sexismo Quem era essa fortaleza? Qual seu nome? Podem lhe chamar de menina, moça, mulher, senhora a depender da idade Mais conhecida como Sobrevivente. Tentaram de todas as formas; e ainda tentam; lhe dizer que sua existência é uma propriedade; um patrimônio inalienável; que não pode fazer tudo o que quer; que precisa dar satisfação; que precisa pedir autorização; que o mundo exige isso; mas não conseguiram; E sempre, ela vai lutar e vai vencer! E mais uma vez sobreviver!
Crédito da imagem: Foto por Felix Mittermeier em Pexels.com
“Os textos representam a visão dos respectivos autores e não expressam a opinião do Sabático Literário.”
Muito forte, profundo e real.
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A mulher selvagem que aprisionaram. É preciso cantar sobre os ossos. Todos os dias!
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