Por: Elaine Resende

Meus dentes amarelos não dizem nada de mim. Mas o olho que repuxa e a mão que balança denunciam a ansiedade. Os cafés e os cigarros, que não me deixam dormir e evitam a fome a qualquer hora, têm seu preço.
Entre um cigarro que pede um café e um café que implora a tragada, quatrocentas palavras são digitadas, céleres como meu pensamento torto. E quando saem da tela, vejo o amarelado da velhice dos escritos, como livro antigo em estante empoeirada. Pretendem o estrelato, serem clássicos antes mesmo de lidos, e espraiados como poeira no universo das letras.
Na chama que consome o cigarro, o tempo passa e as desditosas páginas se amontoam. Uma pilha de cacos desconexos do meu ser. O que está ali sobre a mesa sou eu em forma de prosa. Prosaica.
Escureceu. Troco o café por vinho. Tento tirar o cheiro amarelo dos dedos, dos dentes. Sou a chama que queima as pontas dos dedos. E as ideias maquinam sua nova versão de clássico.

Sorrio amarelo no espelho para a figura esquálida que me olha assustada. Há tempos não nos vemos. Impressiona-se com a palidez e grita comigo irritada que precisa parar de se esconder nas palavras. Quer forma nova, quer ter vida e se espalhar. Quer ser mais que a sombra que me acompanha enquanto desce o crepúsculo.
Respondo para acalmá-la “amanhã finalizo. O amanhã logo chega.” As letras pulam do teclado de volta às pontas dos dedos. Talvez essa seja a noite das promessas cumpridas.
Fotos desse post: Daniela Echeverri
Fascinante! Criatividade em alta. Narrativa capaz de nos fazer ver a cena. PARABÉNS!
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Obrigada, Resende! Bem vindo ao nosso blog, volte sempre! 🥰
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