Eles minha trapaça
minha farsa, meu útero seco
meu apego, minha graça
a alegria da cachaça?
Lerdos! Viver basta.
Eles me querem sem homem
sem seda, sem nome, com fome
querem meu marasmo, meu vexame
mãos sujas no meu orgasmo.
Mujas.
Querem meu choro
meu colostro
um coro em meu encalce
gritando: vaca!
minhas costelas
quebradas numa maca
mazelas, paredes sem arandelas
e que eu fale mal dela.
Perguntem à flor amarela.
Querem jarros
de flores machucadas
no adentrar a minha casa,
a sala vazia, o quarto mofado
um lamento abafado
a afazia malograda.
Esperam morta a minha poesia
uma trava em minha porta
minha boca torta
um rato fedendo na dispensa
uma grande desavença
uma descrença.
eu, de bengala?
não cabem em minha mala.
Teve inverno
sobre minha casa
a horta
perfuma meu quintal.
caminho na orla
soltei os galos de rinha
subi o morro em Natal
sou boneca em Olinda
dancei fado em Buenos Aires
mudei de ares, li Ezra Pound
aprendi outras línguas
xinguei autoridade com rima.
comprei a Monalisa
(mostrei seus dentes)
louvei Deus em repente.
tatuei um dragão no coração
uma naja no ombro
larguei à tempestade
o meu assombro
Forte. Gostei “comprei a Monalisa (mostrei seus dentes)”.
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Obrigada, Céu. Beijo
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Que perfeito, Jovina! Eles que fiquem com a cachaça, somos imparáveis. Meu dragão, tatuei no ombro. Uma lembrança da força fantástica e do pacto de amor que fizemos. Adorei teu fado em Buenos Aires.
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Quanta força nesses versos. Senti cheiro de liberdade.
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