Por: Jovina Gbenigno
Nos dias de manhãs sem nuvens
Ela abria a janela do quarto insone.
Nele, o cheiro das bonecas da infância
Misturava-se com o perfume das
Flores, que agora ela roubava de jardins
Incautos, e as deitava sobre a cama,
Areia e beleza sobre os lençóis.
Ela olhava aquele mistério, vida e eternidade.
Depois víamos as flores em jarros transparentes
Enfeitando a casa...
Nos dias de manhãs sem nuvens
Ao abrir a janela do quarto insone
Ela festejava ver o sabiá-laranjeira entrar
Num voo de balé e melodias,
Desenhava um círculo
Num ritual de encanto e bênçãos
Inspiração para poetas, alegria das crianças,
Sinal da Aliança entre a potência e o ser.
Sabiá, escada de Jacó ligando o céu
E a Terra, por onde os Anjos desciam.
Sabiá, o peixe para os Cristãos,
Sabiá, a chave do mistério.
Sabiá, o Ferrugem, de nome e de plumas.
No quarto insone, cortado pela luz
A ave parava no ar, solo na sinfonia.
Depois pousava no centro da mesa
Ao lado do lápis deixado sobre o livro
Vizinho ao caderno faminto de versos.
O pássaro observava tudo o que ali habitava,
Orgulhoso de ser quem era: a ave nacional do Brasil,
Singular no canto e no espetáculo.
Ela fechava os olhos, entorpecida
E a tarde a encontrava desperta.
O Ferrugem se fora
E ela o imaginava ali.
Então, sentava-se à mesa e escrevia poemas.

Jovina Gbenigno
Jovina GBenigno nasceu em Fortaleza. De família pobre, oito irmãos, embalados pela devoção do pai aos livros, Raimundo Mesquita Benigno, e pelos poemas, seus declames, obras de sua mãe, poeta e artista plástica, Isabel Leila Gomes Benigno. Jovina escreve desde a infância. Nas décadas de setenta e oitenta foi integrante da Casa dos Poetas Juvenal Galeno, onde semanalmente poetas de sua geração declamavam poemas de autoria própria, e de autores consagrados, com debates literários, lá participou também do embrião do projeto de criação do primeiro Museu de Audição de Poetas Cearenses. Foi premiada em Concurso Nacional de Poesia pela Escola Nova Acrópole de Filosofia, em 2017. Publicações: Livro solo de poesias, Versus de Uma Vida. Antologias: Poesia Brasileira, Prêmio Poetize 2021, pela VIVARA Nacional Editora; Antologia Prêmio Poesia Agora 2021,Editora Trevo;Antologia Esboços da Alma,edição comemorativa aos 39 anos de fundação da Editora Scortecci. A poeta tem poema selecionado para compor a Antologia Poética do Selo Off FLIP de Literatura 2021,a ser lançada na feira literária de Paraty/2021.
Crédito da imagem: Foto por Lum3n em Pexels.com
“Os textos representam a visão dos respectivos autores e não expressam a opinião do Sabático Literário. ”
Que beleza!
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Minha querida amiga, você sempre me prestigiando. O, um abraço!
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Maravilha é viver em comunhão com a natureza e com a escrita. Belíssimo poema!
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Muito obrigada! Minha querida leitora. Os pássaros cantam poemas, escrevem versos. Olhar um pássaro e emocionar- se são emanações do Divino que existe. em cada um de nós. Obrigada!
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Oi, Núbia, obrigada! A Natureza tem na minha poética forte presença; musa inspiradora para muitos de meus poemas. Um abraço!
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Que delícia de mergulho na natureza. Dá pra ouvir os pássaros! Que texto gostoso.
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Oi, Cláudia, muito obrigada, realmente acho esse meu poema muito imagético e sonoro. Obrigada!
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Delícia de texto, essa conexão com a natureza e suas infinitas belezas nos move. Gratidão.
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Oi, Alessandra, muito obrigada. Um abraço!
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Sim, Alessandra, muito obrigada. A mainha Terra e seus belos seres, formam a unidade que somos nós. Quisera viver para observar o homem tendo essa consciência. Um abraço.
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