Por: Rosi Santos
Isso não tá certo não!
Tô dilacerada com a dor da partida do Paulo Gustavo. Assim como fiquei dilacerada com a partida do meu tio Paulo, dos meus primos Fernando e Ismael, da tia Selma da Elaine, da mãe da minha amiga Marcelle, da mãe do Pe. Fabio, do colega de trabalho de 37 anos que partiu dias depois da mãe dele, de um conhecido antigo de Fortaleza, do Edson, de mais de 400 mil pessoas que morreram de Covid.
Amanhã é o dia “comercial” das mães, e não paro de pensar na dor de todos os filhos que perderam suas mães e na dor de todas as mães que perderam seus filhos. Marcelle e Deia em particular. Porque? Porque conheço as duas. Marcelle é amiga e Deia gerou, criou e educou um dos MAIORES e MELHORES HOMENS DO BRASIL!
Então isso não tá certo não!
Desde o início dessa louca pandemia, o PG me alegrou, me alertou, se fez presente nos meus dias angustiantes falando de assuntos sérios com aquela leveza e humor que só ELE sabia fazer.
Antes de muitos, cedeu seu Instagram pra Djamila falar e conscientizar MILHARES de pessoas sobre o real problema do preconceito racial brasileiro, que EXISTE sim, e é latente, degradante e silenciosamente canceroso.
Ele doou milhares de reais para combater essa batalha injusta contra esse vírus que chegou em 2019 e que parece que não vai embora nunca mais. Que veio e virou nossas vidas e psiques de cabeça pra baixo.
Em novembro de 2020 tive Covid. Por uma DIVINA estatística tratei como gripe e me recuperei. Ontem tomei a primeira dose da AstraZenica e chorei emocionada e trêmula, pensando em quantas vidas podiam ter sido salvas, em quantas vidas ainda precisam dessa vacina, angustiada pela minha filha de 20 anos que não tem ideia de quando receberá essa picada praticamente indolor e altamente desejada.
Isso não tá certo não!
Essa nova ordem mundial veio com tudo, mostrando quantos paradigmas precisamos quebrar, quantas incertezas transformadas em lágrimas teimam em rolar em nossas faces, quantos preconceitos precisamos entender e expurgar, quantos valores precisamos resgatar, quantas emoções e sentimentos precisamos demostrar, quanta indignação precisamos trabalhar…
Ouvi que a perda extremamente prematura do PG foi da vontade de DEUS. E apesar de toda dor e incompreensão, realmente creio que ELE é o Senhor de todos os destinos, mas acho muito injusto jogar nas costas DELE esses desfechos trágicos do Covid. Então não podemos aceitar essa verdade nos confortar sem antes nos indignarmos com tanta inércia!
Isso não tá certo não!
Realmente não sei como enfrentar esses tempos sombrios de crise e confinamento sem a arte, a música, a leitura, o meu scrapbook.
Não sei como manter minha sanidade sem ter meus cats por perto me acarinhando e ronronando no meu ouvido.
Não sei como permanecer esperançosa sem olhar as folhas verdes da amendoeira pela janela do meu quarto, meu refúgio.
Não sei como pensar nos meus projetos futuros, nos meus sonhos de vida, sem rezar para que eles se realizem.
Definitivamente isso não tá certo não!
O dia amanheceu nublado, como minha alma.
Sinto frio nos pés e no coração.
Ouço o som da rodovia e o choro dos enlutados.
Penso na minha lista de tarefas da semana e em tudo que não vai ser realizar porque alguém morreu.
Tô triste e de luto. Luto pelos conhecidos e pelos desconhecidos.
Hoje me permito viver nubladamente.
Amanhã vai ser outro dia…
P.S. Dia 20/05 foi colocada uma linda placa mudando o nome de uma rua de Niterói para RUA ATOR PAULO GUSTAVO, homenagem a ele que tanto enalteceu essa cidade linda!
Rosi Santos – 8 de maio de 2021
“Os textos representam a visão dos respectivos autores e não expressam a opinião do Sabático Literário.”
👏👏👋Texto Lindo!
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Rosi, faço coro a sua indignação e sinto muito mesmo pelas suas perdas e as de todos. Realmente não está certo! Você tem toda razão. Obrigada por compartilhar conosco seus sentimentos e palavras.
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Lamentável tantas perdas. E o pior que muitos brasileiros continuam a negar oi colocar a culparem Deus. E nesse intervalo ainda insistem em procurar formas de aglomeração como se tudo estivesse normal.
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