Por: Claudia Nagau
Pesquisando sobre como fazer um pão de fermentação natural, fiquei fascinada pelo levain – o fermento natural.
É um processo longo, exige dedicação e atenção às instruções do modo de preparo; mas, acima de tudo, resiliência e altruísmo.
Aí você me pergunta por quê.
Porque mesmo depois da dedicação de tantos dias, parece que o levain tem vontade própria. Ele não depende do seu esforço para dar certo.
Li vários depoimentos de pessoas que aventuraram-se a fazer o fermento natural e foi unânime o comentário de que nunca se sabe se tudo terminará bem. O fermento não aumenta como deveria, o pão não cresce, ou cresce e desmorona. Cada um conta seus percalços com o levain.
Foi inevitável associar este processo de fermentação aos esforços e à vontade de ver avanços em meu filho.
Seiji é uma criança com paralisia cerebral e alguns traços do Espectro Autista. Tem nove anos, ainda não fala e não teme o perigo. Menino corajoso, forte, alegre, carinhoso e esperto (até demais quando convém).
É uma criança privilegiada. Não somos ricos, mas ele tem acesso à fisioterapia, fonoaudiologia, Atendimento Educacional Especializado, convênio médico, escola, cuidado, estímulo, muito amor e carinho.
Mesmo com tudo isso, ele é o levain mais lindo que já vi. Avança no seu tempo, nos ensina a cada dia o mais alto grau de altruísmo e, como diz o autor Andrew Solomon, em seu livro “Longe da árvore”, quebra todas as relações verticais; aprendemos a não esperar, a não criar expectativas, apenas a celebrar as conquistas do dia a dia e saber que não estamos sozinhos.
O universo de famílias das crianças com deficiências é muito maior do que imaginamos e acabamos formando uma rede de apoio entre pessoas fantásticas, escolhidas a dedo, para cultivar o levain mais demorado e precioso.
Um abraço!

Sou Cláudia Nagau, mãe da Joana, 12 e do Seiji, 9. Vivo na pele, a cada dia, as emoções de uma montanha russa. Num momento vivencio as descobertas e dilemas de uma pré-adolescente com altas habilidades e, no outro, as aventuras de um filho com deficiência em seu universo misterioso e cheio de aprendizagem. E assim, eu me doo na maternidade e vou tentando ser um ser humano melhor a cada dia.
Uma enorme lição, aprender para além do tempo das horas, o tempo do ser. Gratidão
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Adorei o texto, precebe-se o ensejo de uma grande mãe cuidando dos seus filhos. Parabéns!
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Lindo texto. Uma lição de vida e esperança .
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Vida! Muita vida! Obrigada, Karla!
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