As crianças faziam barulho, correndo pela grama ainda úmida da garoa matinal. O cachorro corria e latia, pulava em suas pernas curtas, tentando alcançar as bolas de sabão, que pintavam aquele dia de multitons. A cada vez que o sol passeava por uma delas, um arco-íris parecia saltar para o nosso jardim.
E então eu acordei do meu sonho idílico.
O apartamento pequeno e quente, todos juntos na mesma cela para gastar menos energia elétrica, usando o único aparelho de ar condicionado que se esforça por cuspir pequenas migalhas frescas.
Discutem animadamente sobre o jogo. “Eu sou melhor!”, “Você é melhor? Não, eu sou o melhor!”, “Olha essa carta!”, “Cara, esse Pokémon é demais, troca comigo?”…
O cachorro dorme em silêncio, a barriga estendida no assoalho frio, família de patas.
Meu marido cobre os ouvidos com os fones, meus ouvidos também estão abafados pelo crescente da música, me permitindo aproveitar a companhia dos que amo e, ainda assim, manter meu espaço próprio de sanidade mental.
Alguém grita na rua por novas oportunidades de trabalho, alguém pede o direito de ir e vir, alguém deseja que as crianças possam estudar nas escolas.
Eu silencio minha mente com um bocado de meditação, pra não deixar que o todo engula os poucos neurônios que sobrevivem ao nosso ocaso, não posso deixar sucumbirem à falta de opção.
Em breve, não importa o que seja o futuro, em breve, correremos pela grama verde, ainda úmida, sob nossos pés descalços. Sentiremos a brisa suave, serão risos e latidos. E um abraço envolverá meu corpo carinhosamente, beijará meu ombro e meu rosto, enquanto apreciaremos a cena mais bucólica das nossas vidas.
Imagem em destaque disponível sob licença cc: https://pixy.org/src2/578/thumbs350/5787085.jpg
Lindo texto. É preciso resistir ao peso do hoje, em favor da leveza do amanhã. Amei!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Adorei! Texto belo leve e tão real.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Adorei! Texto belo, leve e tão real.
CurtirCurtido por 1 pessoa