Por: Carol Pessôa
Desde pequena sentia um estranho aperto no peito. Os pais a levaram a vários médicos. Também iniciou tratamento psicológico. Mas nada resolvia a estranha pontada no coração.
A família comentava que ela era uma menina problemática. Sempre com notas baixas, problemas de saúde, desânimo para as brincadeiras.
Não havia o que a fizesse sorrir de verdade. Nas fotos, sozinha ou em grupos, exibia sempre uma expressão amarela, sem graça.
Assim foi até os 33 anos.
Cresceu, tornou-se uma médica pediatra responsável, decidida.
Cuidava das crianças com todo o empenho. Era como se buscasse naqueles pequenos a cura de suas próprias dores de menina.
Até que em um dia de emergência, atendeu um pai viúvo que carregava a filha nos braços em desespero. Ela estava com fortes dores na barriga, e ele não fazia ideia de que era apenas uma cólica menstrual. Perdido e preocupado, não entendia que seu bebê estava se tornando uma mulher.
Alice riu. E pela primeira vez, teve a estranha sensação de que seu riso era sincero. E ao receber a notícia de que sua filha virou mocinha, Pedro também riu. Sentiu-se ridículo.
E naquele inusitado encontro, surgiu um sentimento diferente. Alice, como boa médica, foi percebendo dia a dia que a pontada em seu peito melhorava. E foi aconselhada por uma amiga a procurar atendimento espiritual em um grupo kardecista.
Cética, ela teve dúvidas, mas decidiu arriscar.
Ao conversar com o conselheiro, escutou aquilo que jamais imaginava.
“Saudade. Era saudade”.
Alice e Pedro foram companheiros em muitas vidas. E escolheram a madura idade para o reencontro, este abençoado pelos espíritos amigos.
Encantada com a descoberta, ela correu como nos filmes românticos. Já sabia onde ele trabalhava. Pedro era defensor público, e atuava no centro da cidade.
E como nas comédias românticas, ao chegar ela descobriu que ele havia acabado de sair. Para ir ao hospital, explicou uma das funcionárias, entregar um buquê de rosas a uma médica que havia atendido sua filha há poucos dias.
E assim, mais uma vez, recomeçou uma das mais lindas histórias.
Vivida, revivida, eterna.
Crédito da Imagem: Foto por Viktoria Slowikowska em Pexels.com
“Os textos representam a visão das respectivas autoras e não expressam a opinião do Sabático Literário.”
Oi, Carol, parabéns por seus textos tão intimistas e bem escritos. Beijo,
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Lindo texto!
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