A CARTA

Oi…

   Como tem sido sua vida? Me conta, mesmo que não ache importante.

    Mandei arrumar o carro. Ficou bom, você tinha toda razão, estava precisando. Não entendo porquê relutei tanto.

   Ainda não consegui ler os livros que me indicou, abro-os, cheiro-os e percebo que não querem ser lidos, só embalados no meu colo vazio e fico a observar o vazio que eles deixam na estante.

    Pintei a casa. Laranja. Não como do poema “Impressionista” (sempre amanhecendo), mas entardecendo. Teria gostado, logo é noite.

   Refiz o jardim. Abandonei as orquídeas, são melindrosas demais, sou por demais incompreensiva para com elas e seus melindres de excentricidade. Hoje, cultivo as violetas, a janela da cozinha está florida, elas me dão a chance de acreditar que estou no caminho certo. Se falho, substituo por uma nova, já em botões e tenho a impressão de que tudo continua sempre igual.

   Ontem encontrei aquele nosso amigo de longa data. Perdemos a intimidade. Senti essa perda, não somos mais crianças. Sabe… chego à conclusão: o tempo realmente passou, assim, feito ventania, destelhou casas, levantou poeira…

   E sigo assim. Como se nada nunca tivesse fim.

 Carinho.

                                        Da sempre sua;

 PS: As portas continuam sem chaves.

Crédito da Imagem: Pexels

Os textos representam a visão dos respectivos autores e não expressam a opinião do Sabático Literário.”

Publicado por Katja Mota

Não fui eu, foi o meu eu lírico.

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