Eu luto

Eu luto
e o meu luto
perpassa
as minhas artérias
os meus capilares
escuros de tinta azulada

As raízes do meu peito
dos meus cabelos
hoje estão quase pretas
tintas de mar revolto.

Pois a minha caneta chora
e a tinta vem de dentro.
Esse é o meu sangue.
É disso que ele é feito:
tinta.

Nada consegue
remediar
Isso é apenas dor
tudo é apenas perda

O que resta
é só esse ressentimento
estranho.

Eu olho a minha imagem
no espelho e vejo um sonho
se enevoando.

  • É, você foi enganada.
    diz o eco na minha cabeça.

E hoje não tem sorriso

  • como de costume
    Desses que ofereço
    gratuitamente aos passantes.

Só há sangue azul de tinta
espalhado por todo canto
e tudo o que eu ouço
é o canto de um pássaro fúnebre
com suas asas azuis
da janela daquele quarto
onde escrevo sonhos
como esse, frustrados.

No canto, o outro canto
o da sala
me encolho como um feto.

Até virar semente de novo
Até poder brotar novamente
Até conseguir botar
minhas folhinhas de fora
verdes, verdinhas e com flores
nas pontas dos galhos compridos.

Apesar de toda essa tinta
de um azul tão violento
que tristemente
joguei fora…

Assim de dentro pra fora
num luto
que eu luto
todo santo dia.

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