Instagram, Lord Byron, Ada Lovelace e as coincidências divertidas da vida

Por: Elaine Resende

Alguém há de comentar laconicamente que tudo ficou mais tedioso depois do smartphone. Um pouco, tenho que concordar!

Para contar uma boa história muitos elementos são necessários. Precisa ter bons personagens, enredo cativante, as primeiras linhas devem entreter seu leitor para que ele não vá embora. Às vezes eu vou! E faço isso também em filmes.

Não consigo passar muito tempo lendo algo com o qual não me identifico, nem mesmo vendo um filme que não me agrada, e me perdoo por isso. Alguém há de comentar laconicamente que tudo ficou mais tedioso depois do smartphone. Um pouco, tenho que concordar!

Um post no Instagram, por exemplo, é uma história curta com 2.200 caracteres, que cabe no tempo de uma leitura de 2 minutos. Em um único post, uma vida narrada. Para os excelentes escritores, uma linha basta. Para mim, tateando no escuro dos meus pensamentos, uso cada uma das linhas que me é permitida. Mas não continuo nos comentários, como vejo ocorrer vez ou outra. Acho ruim o suspense, a quebra. Melhor cortar no texto e deixar tudo na linha de visão do leitor.

Li de um escritor, o cronista recém falecido Contardo Calligaris, que ele precisava fazer muitas coisas, ler e ouvir outras tantas, para escrever sua crônica semanal para um grande jornal paulista. Ele precisava ter o que contar para tanta gente que valesse a pena ser lido. Me peguei pensando na vida interessante que ele deve ter vivido por conta de sua profissão. Percebi que, assim como ele, vivo em busca de coisas interessantes para alimentar minha vida e meus textos.

Dentre os meus interesses da semana surgiu a escritora Renata Corrêa (@letrapreta), que comecei a seguir no Twitter. Em sua publicação ela informa que assiste ao BBB – Big Brother Brasil – enquanto lê um bom livro (assim as pessoas param de reclamar do programa, nas palavras dela), e compartilha sua lista atualizada a cada livro que termina. Deus, perdoa, que baita inveja eu senti daquela organização! Enquanto isso, ela escreve para a TV, trabalha em sua vida de roteirista, apresentadora de podcast e escritora. Eu sigo levando meus dias como malabarista de pratos, o que também é bastante trabalhoso.

Outra história que ouvi nessa semana veio de uma escritora que tem as melhores Newsletter do mundo. Estava ouvindo o podcast da Aline Valek (@alinevalek), Bobagens Imperdíveis, e ela lembrou que desde criança já escrevia, fazia zines e roteiros para suas bonecas Barbie, brincando de ser aquilo que se tornaria sua profissão no futuro. Daí veio uma grande revelação: eu brincava de ser bancária. Se comecei uma carreira literária, culpem minhas professoras de português!

Não tenho certeza se posso chamar escrita de profissão, acho que está mais para vocação, assim como o sacerdócio, no qual se aceita que há um chamado muito maior que deve ser acatado. Escrevemos mesmo quando isso não nos remunera o suficiente para pagar um cafezinho no boteco da esquina. A necessidade de escrever é anterior a racionalidade, ao cérebro organizado, ao projeto e ao planejamento. Só se precisa escrever.

E será que para escrever tem que ler, assistir filmes, ver desenhos animados, ouvir o que toca nas rádios, acompanhar as novelas e o jornal, numa busca implacável pela novidade? Talvez não! Esse pode ser o meu estilo de escrita, mas não precisa ser o seu. A sua escrita pode brotar simplesmente dentro de você, como uma planta espontânea que cresce sem ser cultivada, uma flor de tiririca amarelinha que enfeita os campos. E, assim como a flor, ser linda e tocar os corações, porque toda história que precisa ser contada é uma história que importa.

Noite passada aconteceu um desses momentos em que ouvi o chamado da caneta e do papel, meu sacerdócio.

Byron, nosso cachorrinho que tem seu nome inspirado no escritor romântico Lord Byron, foi protagonista dessa história de coincidências. Ele invadiu minha reunião virtual e seu nome foi motivo de alegria por parte da coordenadora do evento, pois seu irmão tem uma cadelinha chamada Ada Lovelace, mesmo nome da filha de Lord Byron. Essa é uma das coisas que só o destino nos traz.

Quer mais? Deu vontade de sentar na hora e escrever sobre isso tudo. E contar que Lord Byron, o poeta, era um namorador incorrigível que teve medo, e por isso casou-se com Annabella, a quem ele chamava Princesa dos Paralelogramos, uma mulher genial amante da matemática. Dessa união nasceu Ada Lovelace, a mulher danada de boa que uniu o conhecimento matemático de sua mãe com a poesia de seu pai, e projetou a inteligência do que seria a máquina conhecida 100 anos mais tarde como o primeiro computador. Li trechos de cartas escritas por eles, verdadeiras obras de arte.

Essa foi uma semana de leitura de colunas de jornais, que assim como os posts do Instagram, são textos mais curtos. Foi tanta gente que não cabe num só texto! Para encerrar, a última que li foi da Socorro Acioli (@socorroacioli), escritora e colunista de um grande jornal cearense, que veio por mensagem de um amigo. Ela falava da leitura em tempos de pressa e das muitas vidas que precisaríamos ter para ler todos os livros de uma biblioteca caseira, tal qual essa que tenho aqui em casa. Sugestão dela (e minha): saboreie os clássicos, deguste os demais.

Sobre não terminar a leitura de um livro ou um filme, preciso confessar que ainda sinto a curiosidade de saber o fim. Muitas vezes volto como quem não quer nada, naquele tempo que perderia com qualquer coisa sem sentido, e finalizo a pendência, saciando meu desejo de saber como acaba a história. Sem expectativas, apenas como observadora. Como diria Francine Prose, lendo como uma escritora.


Foto: Mauricio Mercandante (Flickr, 2020)

Publicado por Elaine Resende

Escritora, amante das letras, viciada em criatividade fantasiada de texto, foto, desenho, música e escultura de argila. Um dia será boa em pelo menos uma dessas coisas, mas se diverte em seguir tentando.

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