LÍNGUA EM CHAMAS

Por: Daniela Echeverri

Às cinco da tarde, na saída da escola, caminhávamos pela avenida principal; íamos para a academia e antes paramos em vários lugares para comer.

Meu lugar favorito era a barraca de burrito. Quando pedimos o burrito, a mulher que anotou o pedido nos perguntou quantas listras de chili queríamos acrescentar. Normalmente pedia três ou quatro linhas, mas naquele dia Simon me desafiou a colocar trinta e sete.

Como uma boa pimenteira que sou, aceitei o desafio sem medo. O fogo subiu à cabeça, toda a boca ardeu e os lábios ficaram dormentes; nós dois acabamos chorando.

Photo: Adobe Stock

Não podíamos beber água porque ia piorar a situação, pois ia espalhar o tempero ardido por toda a nossa boca, então Martín nos deu a ideia de atravessar a avenida para ir até o carrinho de sorvete, que estava na promoção dois por um.

Eu não conseguia falar, tudo estava embaçado e as lágrimas escorriam pelos meus olhos.

Balancei a cabeça e aceitei a proposta de Martin, peguei-o pelo braço e me deixei guiar para atravessar a avenida.

A minha língua também estava dormente e quando a cobertura de chocolate tocou as papilas gustativas senti um alívio imediato, o chocolate derreteu na minha boca, parecia uma pomada calmante na ferida, e quando o creme entrou neutralizou completamente a queimação na boca. 

Aos poucos as lágrimas secaram e a vista ficou clara de novo, a cabeça se refrescou e pude olhar nos olhos dos meus amigos novamente, rimos alto durante cerca de dez minutos, retomamos a caminhada e nunca mais aceitei os desafios do Simon.


Publicado por Daniela Echeverri Fierro

Daniela Echeverri nasceu na Colômbia em 1987, onde se formou como advogada. Mora no Brasil desde 2013 e trabalha com negócios internacionais no interior de São Paulo. Apaixonada pela fotografia, viagens, histórias e tudo que desperte a criatividade.

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